quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Crianças são decisivas no consumo da famílias

Depois dos restaurantes, o que mais atrai brasileiros quando decidem abrir seu próprio negócio é o ramo de confecções e vestuário, revelam pesquisas do Sebrae. Mas entrar para o concorrido mercado das agulhas, linhas e tecidos requer mais do que vontade. Ainda mais se o empresário tiver grandes planos para introduzir uma nova marca nos maiores mercados. Só no Estado de São Paulo, estão sediadas 6.500 empresas do segmento de confecção, mostra o levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) de 2006. No período, foram movimentados US$ 7,25 bilhões nessa cadeia, informa O Estado de São Paulo.
Disposta a brigar por uma fatia desse mercado, Juliana Páffaro lançou a Pistache & Banana em 2005, com investimento próprio de R$ 500 mil. Segundo a empresária, ainda em 2004, quando fazia MBA em design na Inglaterra, observou no Reino Unido que roupas infantis produzidas com matéria-prima orgânica despertavam o interesse daqueles consumidores. E mais: não havia fornecedores brasileiros. Ao voltar ao País, iniciou estudos para viabilizar a sua marca. Foi atrás de fornecedores que produzissem algodão orgânico e chegou a uma cooperativa em Guaricê (PR). Parceria firmada, bateu à porta das tecelagens, só uma topou fazer. Primeira linha pronta, contratou representantes para visitar lojas multimarcas e participou de feiras no setor. ''No plano, eu previa começar primeiro pelo Brasil, mas logo recebi convites para exportar'', diz. França, Itália, Canadá, África do Sul estiveram entre as primeiras operações, todas pontuais.
Agora, Juliana faz os últimos preparativos para inaugurar a primeira loja da marca em outubro próximo, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. O ponto, que recebeu investimento de R$ 100 mil, servirá de piloto para seu plano de franquias, orientado principalmente para atender clientes estrangeiros. ''Com o know-how do varejo, que ainda não tenho, vou poder replicar o modelo para fora'', diz. A previsão é estrear no franchising em julho do próximo ano. Ela não descarta, porém, atender o mercado internacional com revendedores. ''Já invisto no processo de certificação dos produtos para qualificar a marca e garantir o reconhecimento no mercado externo. Por aqui, as vendas vão bem, mas as pessoas ainda não escolhem por causa da matéria-prima. Gostam das estampas, qualidade'', conta Juliana, que mantém uma fábrica em Santa Bárbara do Oeste (SP), dividida com outra empresa com que não concorre.
Roupas de praia
A moda infantil também atraiu Hamilton Barreiros e Ruy Lourenço, vindos do mercado financeiro e, depois, consultores empresariais. Foi atendendo a clientes que os dois perceberam o avanço do mercado infantil. Em 2000 abriram a Yellow Bug. Diferentemente da maioria dos pequenos, com limitados orçamentos, já de início pensaram em construir um negócio potente. Injetaram recursos próprios de US$ 2 milhões, aplicados em pesquisa mercadológica, estudos de viabilidade, máquinas, equipamentos, instalações, parque de TI e software. Contrataram 50 funcionários e instalaram uma fábrica em Mirassol (SP). ''Lançamos a marca em um ano bom para o varejo, o que fez despontar nossa marca, principalmente em São Paulo'', explica a gerente de marketing da empresa, Luciana Vitorino.
Com os negócios deslanchando, em 2003, Ruy e Hamilton lançaram outra marca, de moda praia para os pequenos, a Yellow Beach (desde bebês até o tamanho 18). Em 2004, partiu para um vôo internacional, por indicação de um fornecedor. ''Nossa estratégia era exportar somente no final do quinto ano, mas antecipamos por conta de uma oportunidade''. Para isso, se aliaram a um comprador da Inglaterra, lançando a SugarLoaf em alusão ao cartão-postal do Rio, o Pão de Açúcar. O atrativo, conforme a empresa, foi o colorido das estampas, além do trabalho manual de bordado - 50 mil peças foram embarcadas nessa primeira experiência.
Em 2005, a Yellow Beach desembarcou nos Estados Unidos com mais uma marca, a Lil´Bettie Beachwear (correspondente à Yellow Beach). ''A aceitação incentivou a criação de outras duas grifes dos sócios - a masculina Hamilton e a feminina Lily Rio. Para esse mercado, há alguns produtos específicos que não são bem aceitos por brasileiros, como as camisetas de lycra para os meninos'', explica Lourenço. O famoso magazine Barneys é um dos que vendem as linhas do grupo, que fechou 2007 com R$ 20 milhões de faturamento, 160 funcionários e estimativas positivas para este ano: projetam 20% de incremento no faturamento.
Para as filhas
A moda infantil começa a despertar interesse até mesmo dentro de grifes voltadas ao público adulto. Em Pernambuco, a Madame Surtô, com foco nas mulheres de classe média alta, decidiu investir também numa linha exclusiva para as filhas das consumidoras. Lançou no inverno do ano passado a Madame Surtôzinha, conta a proprietária Tatiane Asfora, hoje distribuída por meio de revendedores em outros Estados brasileiros. ''Vimos como oportunidade de negócio levar um produto diferenciado, que acompanha a mesma moda das mães, fugindo dos decotes, saias muito curtas, que consideramos inadequados para meninas'', diz. Já nas duas coleções lançadas, a Surtôzinha responde por 15% do faturamento da grife. ''A moda infantil tem potencial de crescer ainda mais, porém a experiência é nova e esperamos o tempo de maturação para estabelecer uma estratégia'', comenta. Na primeira coleção, foram lançadas 400 peças. Na segunda (primavera-verão), foram 500 itens.
Pesquisa da britânica TNS revelou que as crianças da América Latina representam um importante mercado consumidor, em ascensão, até por terem grande poder de decisão nas compras das famílias. Karina Milaré, diretora de planejamento do instituto de pesquisas, diz que entre as mães brasileiras a influência das crianças sobre as compras é mais marcante que nos outros cinco países pesquisados - aqui, 71% se revelaram dispostas a sacrificar o bolso para atender às expectativas dos filhos. Na, Argentina, Chile, Guatemala e México, o índice é de 66%. ''A nova configuração das famílias e o ingresso da mulher no mercado de trabalho são fatores que alimentam ainda mais o poder da criança'', ressalta. Karina acrescenta que ainda é cedo para falar dos impactos que os países, como o Brasil, poderão ter com a queda de natalidade. ''É difícil avaliar esse efeito, mas neste momento, o que influi sobre o mercado em diversos ramos de atividades é o crescimento da classe média, movimentando diretamente o consumo infantil'', diz.
Marcos Campomar, professor de Marketing da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo, avalia que, mesmo diante dessa redução nos nascimentos, novas variáveis podem mudar esse ambiente, e fomentar o consumo entre os pequenos. ''Tivemos agora a aprovação da lei que garante licença-maternidade por seis meses, o que poderá influenciar na decisão de mais mulheres engravidarem'', cita. Para Campomar, muitos mercados ainda negligenciam os pequenos. ''Hoje, as crianças participam ativamente da vida familiar, ajudando a decidir muitos momentos''.
Atenta a essas mudanças, a Yellow Bug busca opções para não depender exclusivamente de crianças muito novas. Ao ver que parte do seu público começa a crescer, criou no ano passado uma terceira etiqueta: a After, de moda teen, somente para meninas. ''São roupas parecidas com as de mulheres jovens, mas feitas especialmente para a menina de 12 anos, mini-teen'', diz Vitorino.
Fonte: PEGN 

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