quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Criança e tecnologia

Elas fazem de tudo com eles, os aparelhos eletrônicos, para serem crianças mais felizes


(Heloísa de Oliveira)
Com o objetivo de analisar o modo com que o público infantil se utiliza de aparelhos eletrônicos, entre eles o computador e o celular, a Turner International do Brasil, proprietária do canal de TV paga Cartoon Network, desenvolveu, pelo terceiro ano consecutivo, o estudo Kids Experts, a partir do tema “Os hábitos da Geração M: as crianças multitarefa”. De acordo com Renata Policicio, gerente de pesquisa da Turner, ser uma criança “multitarefa” significa ter o hábito de utilizar mais de uma ferramenta e executar mais de uma atividade ao mesmo tempo, como falar ao telefone enquanto bate papo na internet, por exemplo.

A pesquisa, realizada em maio de 2008, foi dividida em duas etapas: a primeira, quantitativa, abrange entrevistas com especialistas e um questionário, respondido por cerca de 7 mil crianças entre 6 e 11 anos, no site www.cartoonnetwork.com.br; já a segunda, qualitativa, contou com a chamada “observação de registro”, na qual mães anotavam, em um diário, as atitudes dos filhos em relação aos aparelhos eletrônicos.

“Se na década de 70 a tecnologia era usada de forma passiva e com foco no entretenimento familiar, ou seja, os programas eram voltados a todas as idades, hoje em dia as crianças têm à disposição seis canais, na TV paga, exclusivamente dedicado a elas”, afirma Purici, acrescentando: “Una isso à evolução dos brinquedos e de aparelhos como videogames e computadores. A criança da primeira década do século XXI nasceu em um mundo em que é preciso estar antenado a tudo o tempo todo, o que causou uma transformação enorme no modo de lidar com o universo que a cerca”.

Esses “nativos digitais”, segundo Policicio, que não fazem idéia de como é viver sem internet e celular, em muito se diferem de seus pais, os “imigrantes digitais", inseridos tardiamente nesse contexto e que, por isso, apresentam um certo estranhamento em relação às novas tecnologias. “Por nascerem com um volume de informações infinito, as crianças aprendem, desde cedo, a trabalhar com diferentes meios de forma integrada, tornando-se, assim, uma criança ‘multitarefa’. Os pais geralmente não entendem como elas são capazes de fazer tanta coisa ao mesmo tempo”, explica.

Se por um lado essa inserção precoce no mundo digital estimula a criatividade e permite que as crianças se relacionem virtualmente e entrem em contato com diversas culturas, por outro, pode transformá-las em pessoas introspectivas e, até mesmo, sem um embasamento cultural e intelectual mais profundo. Segundo a psicóloga Suzy Camacho, uma das entrevistadas durante a etapa quantitativa do estudo, o fenômeno multitarefa acaba gerando um “não-aprofundamento”. “As crianças podem ser capazes de fazer inúmeras coisas ao mesmo tempo, mas, se quiserem refletir um pouco mais a respeito de algo específico, terão que parar e se concentrar em apenas uma atividade”, explicita.

Como previsto pela Turner, o estudo corrobora a teoria da "geração M", apresentando um resultado surpreendente: 73% dos meninos e meninas entre 7 e 15 anos têm o hábito de combinar o uso de diversas tecnologias simultaneamente. Quando avaliados de acordo com o sexo, as meninas aparecem em primeiro lugar, com 79%, contra 70% dos meninos. Além disso, o estudo constatou que, enquanto elas utilizam as ferramentas com foco em comunicação (programas de mensagem instantânea e comunidades virtuais), eles priorizam o entretenimento (jogos on-line, vídeos e músicas).

“As plataformas de comunicação mudaram, mas o comportamento das crianças e jovens é o mesmo. As meninas continuam ficando horas batendo papo, como quando só havia o telefone, e os garotos permanecem aficcionados por jogos e videogames”, analisa Policicio. A idade com que as crianças desenvolvem essa capacidade também assusta: a partir dos 14 anos, ela sabe usar todos os aparelhos com facilidade, ao mesmo tempo. “E essa idade tende a diminuir cada vez mais”, avalia.

“O público infantil está mudando de comportamento o tempo todo, com uma velocidade incrível”, analisa o vice-presidente de marketing e publicidade da Turner Brasil e Miami, Rafael Davini. “Portanto, é necessário que entendamos o que ele quer e pensa e, assim, sermos capazes de oferecer o que eles procuram. Essa nova realidade virtual está aí, não podemos ignorá-la”.
Fonte: Portal da Propaganda - 28/08/08

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